Sunday, September 20, 2009

Ele correu de uma forma que nunca se achou capaz, foi por medo, medo de algo que ele não entendia tão bem assim, mas ele correu e caiu e sangrou e não se segurou ao soltar berros de medo e seus intestinos.
Ele não era exatamente um exemplo de bom cidadão, bebia de mais, fumava de mais, usava drogas de mais (cocaína a sua grande amante) e pra piorar mentia sobre tudo, o grande hipócrita alguns diziam, mas ele não era de todo mal, ainda possuía em seu coração resquícios de uma bondade advinda do berço, de sua mãe santa e de seu pai não tanto assim.
Apesar de todas as suas falhas as pessoas ainda se enganavam sobre ele, ainda o achavam... bem como posso colocar isso em palavras...um bom partido, isso, é isso mesmo, as pessoas o consideravam um bom partido, filho de berço áureo, com uma beleza antiga, porem compreensível, de uma inteligência tangível, e saturável também, pois ele não se cansava de gritá-la aos 4 ventos, que de acordo com ele o mais importante era o sul, sabe-se lá porque, ele tinha todas as qualidades que as sogras amavam, e que os amigos mesmo que considerando-o um grande arrogante suportavam e que elas, todas elas, que começaram quando ele já era mais velho, mas nunca pararam depois, achavam intrigante.
Ele sabia falar de musica, filmes, drogas (para quem ele achava que iria conquistar assim, pois ele era um daqueles!), ele sabia conciliar na mesma conversa, mitologias de mundos inteiros e os sentimentos mais profundos dos outros, sempre dos outros, porque os seus sentimentos não passavam de uma fachada, ele percebeu cedo que não se sentia como os outros, não era de rompantes de paixão (bem não antes de conhecê-la) e se orgulhava de ser o ultimo dos racionais, dizia ele:
- Sei bem o que quero, vou estudar, trabalhar, formar e voltar pra lá, lá longe lembra, aonde eu estive uma vez (nessa hora ele pensava o quanto aumentava e inventava o quão longe e o quanto viveu por lá) e lá eu vou conquistar diversos outros lás, e vou ser sempre o melhor.
Ele dizia isso e varias coisas, e honestamente, se o encontrar aposto que ainda diz, dizia que era o melhor, o mais feliz quando queria, e o mais triste quando precisava, ele jurava que já viu deuses, ele praguejava para quem não acreditava que ele já foi enorme, que já visitou mundos sem fim...sim ele os visitou, mas não passou disso de visitas, aonde enganou mais alguns a crerem que ele era aquela pessoa tão boa, tão grande tão pura... falácias, tudo não passava disso, falácias, mentiras tão bem elaboradas que precisaram de anos para desvendarem.
Mas apesar de tudo isso, de tudo que ele fez, de todo mal que causou (especialmente a ela, que hoje o perdoou, mas que ainda sofre (espera ele) com os seus constantes desafetos e fingimentos de bem estar) não merecia o que passou.
Bem merecia sim, honestamente ele é o que mais merecia todos os expurgos cabíveis a tão grande arrogante, mentiroso, hipócrita...deu pra entender o meu desafeto por ele?
Mas ele mente para si mesmo, ele se engana ao achar que não merecia e se faz de vitima, mas hoje , vendo de longe, assumo... o coitado sofreu, e honestamente tentou mudar.
Sua primeira mudança foi parar de se achar tão bom, internamente ao menos, para os outros ele ainda colocava sua mascara sorridente de carnaval e saia pela rua a bailar em braços desmerecedores, mas internamente conflitos surgiram.
...sera que não sou tão bom assim.
Já dizia algum poeta de quem não me lembro, o melhor mentiroso é o que se engana, ora, ele era o melhor de todos então, era um Da Vinci nessa arte da auto-enganação , sempre se achou com toda a convicção o melhor de todos eles, olhava com desprezo aos que não agiam assim, bem, ele mudou isso, começou a olhar com respeito, mas ainda os tratava com desrespeito, pois, “tinha uma imagem a zelar” .
A segunda mudança veio tarde, parou de se fazer de vitima (parcialmente, ninguém muda completamente já dizia ela) começou a aceitar a pena pelos seus pecados, começou a perceber que Newton estava certo, para toda ação a uma reação.
Mas a terceira mudança caro leitor é a que lhe intrigará mais, ele parou de falar de si na primeira pessoa, e só o chama de ele hoje, ele, o distante, o que ele não quer ser, o que ele honestamente deseja mudar,o ele que se sente honestamente arrependido, não pelo que fez a ela, mas por estar correndo tanto, e caindo, e se machucando por não conseguir fugir dele mesmo, daquele ele que ele não entendia,daquele ele que ele cansou de ser.
Ele continua correndo, continua caindo, e quando cai volta a se chamar de eu e chorar e pedir ajuda e fingir dores maiores da que esta sentindo, a mentir a enganar, a ser aquele velho eu que se chama ele, aquele velho que no chão se torna tão presente quanto meus dedos gastos ao escrever sobre ele.
Mas ele se levanta e corre.
Sabe-se lá o que acontecerá, mas quando de pé, em movimento ele não quer parar, acho que mudou de novo, aprendeu mais sobre Newton, um corpo em movimento tende a permanecer em movimento, e ele tem medo disso de parar de se mover e desejar permanecer assim, isso o intriga e o faz perder o controle de si, da sua mente e do seu intestino.
O eu ele não precisa falar que se encontra no chão hoje, chão sujo de si, chão cansado dele, chão que ela não pisara mais, e ele agradece por isso.